22 de setembro de 2010

mãe,

Sei que é por sua causa que eu vivo, que respiro e talvez até a razão de meus problemas se ressumam em sua ausência. Entre outras coisas o seu amor é o mais puro, o mais brando e um dos que mais importa para mim. Eu nunca soube sobreviver sem você, pois nunca houve um ser mais bondoso e singelo que te alcançasse. Mas, depois de segundos você não estava mais lá, foi tão rápido, e eu era tão pequena, tão frágil, e você, por mais delicada que fosse, era forte e se estendia como uma muralha para proteger-me. Minhas pequeninas mãos tentavam alcançar seu rosto. Sua pele alva e macia parecia seda e seus olhos leitosos me fitavam, os mesmos sorriam para mim, com seu brilho único. Olhá-la sempre era uma tarefa fácil. O único sentimento que tinha era um eterno amor incondicional e indubitável. Perdê-la foi a maior dor da minha vida inteira, e as lembranças que eu ainda tenho são fotos, tão nostálgicas e duradouras.
Estávamos no jardim da grande casa branca e antiga, e ela me empurrava do balanço preso aos fortes galhos das árvores, o balanço que lembrava a infância. Sentia-me protegida e em segurança, enquanto meus poucos e ralos fios destilavam pelo ar. Por mais que seja óbvio dizer isso, daria tudo para reviver aquele momento novamente, e trazê-la nem que fosse em apenas um de meus melhores sonhos. Na verdade eu lembro de todos os nossos momentos, mas os ter de volta é algo impossível. É algo tão estúpido, quero tê-la ao meu lado, tocar de novo em sua pele macia, rir das suas sardas que se expandiam na sua pele alva, afagar seus cabelos claros e tão lisos, fitar seus olhos era algo tão perfeito, as linhas de suas pálpebras movimentavam-se em sincronia e seus longos cílios lembravam-me os contos de fadas.
Por favor fique. Por favor. Eu suplicava até o último minuto, mesmo sabendo que talvez não tivesse resultado. Ela me fitou com aqueles olhos castanhos, e sorriu, fraca com as linhas de expressão cansadas.
Eu a amo, mamãe. E não quero esquecê-la. Disse as doces palavras que soaram tão infantis. Seu sorriso era fraco e ela deu uma leve tossida.
Nunca vai me esquecer, e eu também nunca vou esquecê-la, pequena. Disse isso logo após, pegou minha mão, gélida e trêmula e me deu uma coisa. Era um colar, seu pingente era um anjo azul. Guardaria para sempre. E aquela foi a última vez que vi seus olhos abertos novamente. Seu último suspiro, não pude vê-lo, os médicos afastaram-na de mim, tubos imensos que mais pareciam fazer parte da mitologia grega foram colocados em sua garganta, enquanto tentavam-na fazer respirar. Não aconteceu, e dali em diante eu tive que aprender a sobreviver, sem ela. Apenas com a dor de sua ausência.